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Quais problemas resolver? por Richard Feynman

Texto original disponível em:
http://genius.cat-v.org/richard-feynman/writtings/letters/problems

Traduzido por Gustavo De Mari Pereira

Um ex-aluno, que também foi uma vez estudante de Tomonaga, escreveu para conceder seus parabéns. Feynman respondeu, perguntando ao Sr. Mano o que ele estava fazendo naquele momento. A resposta foi: “estudando a teoria da Coerência com algumas aplicações para ondas de propagação eletromagnéticas em atmosferas sob turbulência…um tipo de problema humilde e real.”

Caro Koichi,

Estou bastante feliz em ouvir você, e também de que você possui essa posição no laboratório de pesquisa. Infelizmente, sua carta me entristeceu porquê você me parece realmente triste. Parece que a influência do seu professor lhe deu a falsa idéia do que são os problemas que valem à pena. Os problemas que valem à pena são aqueles que você pode realmente resolver ou ajuda à resolver, aqueles que você realmente pode contribuir com algo. Um problema é grande na ciência se ele está diante de nós sem solução e vemos alguma maneira de fazermos algum progresso nele. Eu aconselharia você a pegar problemas mais simples, ou como você disse, humildes, enquanto você busca algo que possa resolver facilmente, não importa o quão trivial. Você terá o prazer do sucesso e de ajudar seus companheiros, mesmo se for apenas responder uma questão na mente de um colega menos capaz do que você. Você não deve tirar de você esses prazeres, porquê você tem uma idéia errônea do que vale à pena.

Você me encontrou no auge da minha carreira, quando eu parecia com você, me preocupando com problemas próximos dos deuses. Mas ao mesmo tempo, eu tinha um outro estudante PhD (Albert Hibbs), era como se tivesse asas soprando ondas sobre o mar. Eu aceitei ele como estudante porquê ele veio à mim com o problema que ele queria resolver. Com você, eu cometi um erro, eu lhe dei um problema ao invés de fazer com que você buscasse o seu; e deixar você com a ideia errada do que é interessante ou agradável ou importante para se trabalhar (ou seja, aqueles problemas que você vê, você pode fazer algo sobre). Sinto muito, me desculpe. Eu espero que com essa carta, corrija isso um pouco.

Eu trabalhei em inumeráveis problemas que você poderia chamar de humildes, mas o que eu gostei e me senti muito bem foi porquê alguma vezes eu poderia ter sucesso parcialmente.
Por exemplo, experimentos no coeficiente de fricção em superfícies altamente polidas, para tentar aprender algo sobre como a fricção funciona (falha). Ou, como propriedades elásticas de cristais depende das forças entre os átomos neles, ou como transformar uma vara de metal galvanizado em objetos plásticos (como botões de rádio). Ou, difusão de nêutrons em Urânio. Ou, reflexão de ondas eletromagnéticas em películas de vidro revestidas. O desenvolvimento de ondas de choque em explosões. O desenho de um contador de nêutrons. Porquê alguns elementos capturam elétrons de órbitas L, mas não de órbitas K. Teoria geral de como dobrar papel para fazer um certo tipo de brinquedo (chamado de flexágono). Os níveis de energia em núcleos leves. A teoria da turbulência (Eu gastei diversos anos nisso sem sucesso). Mais todos os “grandes” problemas da teoria quântica.

Nenhum problema é tão pequeno ou tão trivial se nós podemos realmente fazer algo com ele.

Você diz que é um homem sem nome. Você não é para a sua mulher e para o seu filho. Você não vai permanecer assim se puder responder às simples perguntas que os seus colegas imediatos fizerem quando forem ao seu escritório. Você não é um homem sem nome para mim. Não permaneça como um homem sem nome, por você – seria uma forma muito triste de ser. Agora, busque o seu lugar no mundo e evolua bastante, não em termos dos seus ideais ingênuos da sua infância, nem em termos dos ideais errôneos que você imagina que seu professor tem.

Boa sorte e felicidades.
Sinceramente, Richard P. Feynman.